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Equilibrio Artigo

Luís Mesquita, fisioterapeuta com experiência no acompanhamento de atletas, fala-nos esta semana sobre o treino proprioceptivo e sua importância.

O equilíbrio pode ser treinado? A resposta ao título do artigo é sim. O equilíbrio pode e deve ser treinado, sendo este trabalho de extrema importância na prevenção de lesões desportivas. A maior parte dos desportos coletivos e individuais envolvem mudanças de direção constantes, assim como salto, corrida, o que coloca o atleta perante situações de desequilíbrio. No hóquei em patins, para além das constantes acelerações/travagens e mudanças de direção tal como nos outros desportos, a utilização dos patins é um fator de dificuldade extra para manter o equilíbrio.

A propriocepção, ou seja, a capacidade inconsciente que o nosso sistema nervoso central possui para manter a estabilidade e controlo do nosso corpo ou segmento no espaço, é mantida através de 2 mecanismos neurofisiológicos, o feedback e o feedforward. Estes mecanismos sensório-motores estão continuamente ativos de modo a manter a estabilidade do corpo.

O feedforward corresponde ao mecanismo de antecipação, enquanto que o feedback ou retroação negativa corresponde ao mecanismo de reação. Exemplificando, quando queremos agarrar um objeto, fazemos um cálculo inconsciente para determinar qual a força necessária para suportar esse mesmo objeto. Isto corresponde ao mecanismo de feedforward. No entanto, se o objeto é mais leve do que havíamos calculado inconscientemente, o nosso mecanismo de feedback irá entrar em ação para regular a força aplicada sobre o objeto, de modo a produzir um movimento mais fino. O mesmo acontece na corrida, salto e mudanças de direção, nas quais o sistema nervoso central envia informação de pré-ativação e antecipação às diferentes estruturas do corpo responsáveis pelo movimento, através do feedforward, enquanto que o feedback entra em ação se no momento do apoio ao solo o pé for colocado sobre um obstáculo ou tiver sido surpreendido por qualquer outro fator que põe em causa a informação fornecida pelo feedforward.

Resumidamente, o mecanismo de antecipação está dependente da aprendizagem sensório-motora de determinado movimento ou gesto desportivo, enquanto que o mecanismo de retroação funciona como detetor de erros ou calibrador, o que permite aumentar a qualidade desse mesmo movimento ou gesto desportivo.

O mecanismo de retroação está dependente de um conjunto de receptores que o corpo humano possui, os exteroceptores, capazes de captar a informação do meio externo, fundamentais para a manutenção da capacidade proprioceptiva: os receptores visuais, vestibulares, cutâneos, auditivos, articulares e musculares.
Esta capacidade de programação e de correção de movimento, quando se encontra diminuída, é responsável pelo aumento do risco de lesão, assim como a diminuição da eficácia e controlo perante determinados gestos desportivos. Sobretudo num período pós-lesão, esta capacidade proprioceptiva encontra-se afetada, sendo fundamental a sua reprogramação.

Alguns estudos também demonstram que quando um atleta entra em fadiga, a sua capacidade proprioceptiva e de controlo motor diminui, sendo uma das justificações plausíveis para o elevado número de lesões nos minutos finais dos jogos/treinos.
Como tal, é fundamental que o treino proprioceptivo faça parte da rotina diária de um atleta, quer no período competitivo quer no regresso à atividade pós-lesão.

Existem diversas abordagens ao treino proprioceptivo, e tal como tenho enfatizado nos artigos anteriores, parece-me fundamental que exista um transfer entre os exercícios deste tipo de treino e os gestos desportivos mais utilizados por um atleta, ou seja, o treino proprioceptivo deverá ser o mais funcional possível.

No caso do hóquei em patins, apesar da pouca ou nenhuma bibliografia existente, recomendo a execução deste tipo de exercícios com e sem calçado desportivo, assim como realizar alguns exercícios com patins no ringue, sobretudo movimentos de mudança de direção. O treino proprioceptivo é um bom complemento para ser introduzido na rotina de aquecimento ou warmup, e também é importante ser realizado em contexto de fadiga, de modo a haver um maior transfer para os minutos finais de um jogo.

Atualmente diferentes tipos de materiais fantásticos para treinar a capacidade proprioceptiva de um atleta. Desde discos de instabilidade, BOSU, TRX, trampolim, são imensos os materiais que podem ser utilizados.

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Pessoalmente, sou um entusiasta da utilização da agility ladder ou escada de agilidade (também poderá ser desenhada no chão com tape, por exemplo), que para além do reduzido custo, consegue aliar o treino proprioceptivo ao desenvolvimento da aceleração e agilidade de um atleta, capacidades fundamentais para singrar em qualquer desporto coletivo. No vídeo apresentado em baixo, é possível observar alguns dos muitos exercícios que podem ser executados na escada de agilidade.
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Durante a realização de qualquer exercício que vise o desenvolvimento das capacidades proprioceptivos de um atleta, deverá ter em conta o nível de dificuldade desse mesmo exercício. Deverão ser desafiantes, mas não impossíveis ou demasiado exigentes. Quando um atleta realiza sem qualquer dificuldade determinado exercício, deverá progredir para um exercício mais avançado. Deverá sempre começar por exercícios básicos, evoluindo para exercícios mais avançados.

Nas últimas semanas foram abordados diferentes temas no que concerne à prevenção de lesões. O treino proprioceptivo é apenas mais um item para juntar ao leque composto até agora por treino da capacidade muscular excêntrica, flexibilidade e treino da estabilidade do core, cujo resultado final será uma enorme diminuição do risco de lesão.

Relembro que estas são apenas algumas dicas, não substituindo de forma alguma o acompanhamento por um profissional competente, dado que cada atleta possui características únicas, sendo necessário em alguns casos uma abordagem individual e específica.

Luís Mesquita 
(Licenciado em Fisioterapia, pós-graduado em Fisioterapia Manual Ortopédica pela Curtin University of Technology)

BIBLIOGRAFIA
1.GUTIERREZ, GM., KAMINSKI, TW., DOUEX, AT. (2009). "Neuromusclar control and ankle instability". American Academy of Physical Medicine and Rehabilitation. Vol. 1 359-365
2.BOSCO, R., POPPELE, RE. (2001). "Proprioception from a spinocerebellar perspective". Physiological Reviews. Vol. 81 n°2
3.RIEMANN, BL., LEPHART, SM. (2002). "The sensorimotor system, parte II: the role of proprioception in motor control and functional joint stability". Journal of Athletic Training 2002;37(1):80–84