- quarta, 21 outubro 2015
Estivemos à conversa com Vasco Reis, atualmente com 49 anos e com uma vida de dedicação ao hóquei em patins, é atualmente treinador dos Sub15 da ACD Gulpilhares. Ficamos a conhecer um pouco melhor o seu percurso, com muitos anos na modalidade. “Enquanto atleta, representei apenas e só o meu clube do coração, a Associação Académica de Espinho, desde os 5 até aos 20 anos, idade em que fui chamado para o serviço militar obrigatório. Como treinador, estive vários anos com a formação da Académica de Espinho, trabalhando com diferentes faixas etárias, desde as escolinhas até Sub15. Nos últimos dois anos, abracei um novo projeto a convite da ACD Gulpilhares, estando atualmente com o escalão de Sub15.”
Plurisports (PLR): A temporada está agora a começar, como correu a pré-temporada e quais são os objetivos para esta temporada?
Vasco Reis (VR): A pré-temporada correu com a normalidade e tranquilidade desejadas, com dois objetivos em vista: Criar um espírito de grupo tão forte quanto possível, tendo em conta que a equipa recebeu 5 novos atletas de diferentes origens, e obviamente preparar a equipa para o início da competição.
Para esta temporada, tenho/temos a ambição de conseguir apurar a equipa para o CN de Sub15, mas estou consciente de que a tarefa não é fácil, tendo em conta que tenho um plantel formado apenas por atletas de 1.º ano, e no nosso grupo, estarem duas outras equipas também com muita qualidade, e com atletas mais velhos, mais rotinados e experientes.
PLR: O que podemos esperar da sua equipa? Quais as maiores dificuldades que espera encontrar?
VR: Da minha equipa, espero poder oferecer aos amantes da modalidade, bons jogos de hóquei em patins, e aos adversários empenho máximo, e o respeito que eles nos merecem. É isso que tento incutir aos meus atletas.
Quanto a dificuldades, apenas estou à espera das naturais dificuldades que os adversários nos vão apresentar, e para as quais trabalhamos seriamente para as poder ultrapassar.
PLR: Qual a diferença entre o jogador e o treinador? Qual é mais difícil? Ser jogador ou treinador?
VR: Não é fácil responder de uma forma linear a esta questão, uma vez que "o jogador" que eu representei, competiu há cerca de 30 anos, num contexto socioeconómico que muito pouco ou nada tem a ver com os dias de hoje. Às vezes caímos na tentação de dizer "no meu tempo...", mas a verdade é que tudo era bastante diferente, para que se possam fazer comparações diretas.
Quando digo aos meus atletas que "no meu tempo..." não se bebia água nem havia pausas durante os treinos e jogos, não se usavam chinelos no duche, jogava-mos maioritariamente em rinques de cimento ao ar livre e à chuva, um stique só era encostado quando a pá tinha cerca de 3cm, etc etc etc, eles naturalmente riem-se. Para nós, tudo isso era natural. Tentando responder à questão, após ter vivido as duas experiências, não tenho a menor dúvida em afirmar que é bem mais difícil ser treinador, principalmente se encaramos de uma forma séria o trabalho que desenvolvemos. O jogador tem também que trabalhar muito para se afirmar num meio cada vez mais competitivo, mas não tem o peso nem a responsabilidade de responder por uma equipa.
PLR: Sente-se concretizado com o seu percurso enquanto treinador?
VR: Enquanto treinador, e aqui terei que abrir um parêntesis para realçar que sou treinador de formação e não apenas treinador, sinto-me bastante confortável com o meu percurso, pois tenho consciência de que dei e dou o meu melhor para ajudar a formar atletas e homens, transmitindo-lhes para além dos naturais ensinamentos sobre HP, valores desportivos éticos e morais, que lhes serão certamente úteis muito para lá das suas carreiras de hoquistas.
Na vertente desportiva, obviamente que quero sempre vencer, quero sempre levar a equipa tão longe quanto possível, dentro dos limites do que no meu entender deve ser a formação. Aqui, haveria "pano para mangas", mas ficará para outra oportunidade.
Os convites que vou recebendo de vez em quando para treinar uma equipa ou outra, deixam-me naturalmente satisfeito, e são também para mim um indicador do reconhecimento do meu trabalho.
PLR: O que o fascinou na modalidade e o trouxe até ao hóquei em patins?
VR: Sou suspeito para falar sobre isto mas, o hóquei em patins é para mim das modalidades coletivas uma das mais espetaculares, pois engloba o domínio de um conjunto bastante heterogéneo de habilidades motoras, também habilidades mentais, sendo a inteligência e a capacidade de decidir bem em frações de segundo características diferenciadoras dos grandes génios da modalidade.
Um bom jogo de hóquei em patins são aproximadamente 70 a 80 minutos de adrenalina, e nós Portugueses, temos a sorte de poder ver ao vivo e com facilidade algumas das melhores equipas e alguns dos melhores jogadores do Mundo.
Quem me trouxe para o HP, foi um dos grandes nomes do HP nacional, e que aliás dá o nome às escolas de patinagem da AA Espinho, Vladimiro Brandão, que pela amizade que tinha (e tem) com o meu pai, conseguiu convence-lo a para lá levar os três filhos.
PLR: Certamente algum sonho ou objetivo por concretizar. Quais os seus objetivos pessoais a curto e a médio prazo?
VR: Sonho talvez não, mas objetivos sim: a curto prazo, pretendo fazer uma boa época, e justificar a confiança que a ACD Gulpilhares depositou em mim.
A médio prazo, manter a equipa unida e motivada, por forma a resistir aos constantes "ataques" dos clubes que nos rondam com o objetivo de tentar desviar atletas.
Como legado da minha passagem pelo HP, gostaria de fazer com os meus atletas, o que fez o meu treinador de formação, Marçal Duarte, que incutiu de tal forma nos "putos" a paixão pela modalidade, que passados mais de 30 anos, é fácil encontrar pelos pavilhões ex-colegas a ver jogos, a acompanhar os filhos, a treinar equipas, a jogar pelos veteranos, etc. Criamos laços, e fizemos amizades para a vida.
PLR: Quais os maiores obstáculos que encontra no Hóquei em Patins atualmente?
VR: A atual conjuntura económica, provocou uma forte diminuição dos apoios que empresas e entidades prestavam aos clubes. Como consequência, são os pais que têm que suportar todas as despesas relacionadas com a prática da modalidade, e que vão bastante para além da mensalidade e do investimento em material.
Nenhuma parte do total das despesas tem qualquer tipo de incentivo ou dedução fiscal.
O HP não é um desporto barato para quem o pratica, e a falta de apoios financeiros aos clubes, poderá em alguns casos restringir o acesso à prática do mesmo, levando a uma diminuição do número de praticantes.
Para além da questão económica, uma outra não menos importante: deveria haver uma forma de poder integrar no curriculum escolar, as cinco a seis horas semanais que jovens atletas federados dedicam à prática da modalidade. Isso iria aliviar-lhes a carga horária escolar, e dar-lhes-ia mais tempo quer para estudar, quer para descansar, que também é necessário.
PLR: Como treinador que mensagem passa a todos os praticantes da modalidade?
VR: Acima de tudo, que se divirtam, mas também que se apliquem, pois no fundo, a vida é isso mesmo, uma luta constante por um lugar ao sol !
Foto: Facebook Vasco Reis